O idoso na sociedade contemporânea

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Envelhecer é um processo biológico e natural do ciclo da vida. Mas você sabia que a velhice, no contexto social, é uma categoria fruto de uma construção social e histórica, não dotada de universalidade?  

Pesquisas antropológicas desconstroem premissas universalizantes e etnocêntricas sobre o idoso na sociedade contemporânea, tais quais as norte-americanas que se auto descrevem como referência. Elas consideram que comportamentos observados em determinada sociedade podem ser tomados como naturais para toda a humanidade, ainda que em contextos absolutamente distintos.

Assim também deve ser o olhar lançado para a velhice. Neste post você vai saber mais sobre o posicionamento social da pessoa idosa na sociedade contemporânea.

O que você vai ler neste artigo:

A condição humana e as fases da vida

A velhice socialmente instituída

A velhice nas políticas públicas

A velhice e as tradições  

A condição humana e as fases da vida

A professora do Departamento de Antropologia da Unicamp, Guita Grin Debert, em seu livro  “A antropologia e o estudo dos grupos e das categorias de idade”, ressalta que a antropologia contribui sobremaneira para os estudos sobre a condição humana em todas as fases da vida, seja na infância, na fase adulta ou na velhice, ressaltando a grande importância dos elementos culturais de cada sociedade, para uma melhor caracterização do papel de cada indivíduo naquele referido locus.

Nas sociedades primitivas, diante da ausência da linguagem escrita, prevaleciam os costumes e tradições orais, que eram passados de geração para geração, tendo os mais velhos uma grande importância por conhecerem as origens e histórias de seu povo. Quando dominavam os rituais religiosos, essas pessoas idosas possuíam ainda mais prestígio e influência em sua comunidade. 

Já, ao se olhar sob o prisma social, constata-se que, quanto maior a disponibilidade de recursos materiais em uma dada sociedade, maior a possibilidade de se conseguir uma posição social de destaque da pessoa idosa. A forma como as sociedades valorizavam o conhecimento e a experiência dos mais idosos parece ter variado, a depender do quanto de conhecimento e cultura possuíam, bem como da disponibilidade de meios alternativos para viabilizar a transmissão destes aos mais jovens.

É possível afirmar que nas sociedades mais antigas havia uma valorização pessoal ligada à capacidade física do homem, sendo que aqueles que se mantivessem mais vigorosos, mesmo na senectude, seriam merecedores de maior consideração social, do que os aqueles que demonstrassem mais as fraquezas e mazelas peculiares do envelhecimento.  

A velhice socialmente instituída

Em uma pesquisa profunda sobre o estudo da velhice, a filósofa Simone de Beauvoir, faz uma análise completa em diversos ramos das ciências sobre o olhar destinado à velhice e promove densas reflexões sobre a temática. Ao referir-se sobre a Antiguidade e Idade Média, a autora francesa destaca que o sonho de superar a velhice e do rejuvenescimento é recorrentemente ilustrado na literatura e na arte como expressão do pensamento da época. De certo modo, uma forma de negar esse fenômeno natural. Por outro lado, a velhice é enaltecida, quando retratada associada à ideia da experiência do passar dos anos e da sabedoria.

Com o passar do tempo, em especial no advento das sociedades industriais, o idoso na sociedade contemporânea é associado à ideia de alguém com limitação produtiva, o que a leva, aos poucos, a ficar alijada do contexto social, por ver diminuída a sua capacidade de produzir riqueza, passando a ser vista como um fardo.

Em um artigo publicado na Revista do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFBA, intitulado “Perspectivas e desafios do envelhecimento inclusivo diante de uma sociedade líquida”, os autores Patrícia Sobral de Souza e Lucas Silva, sustentam a necessidade de incluir as pessoas idosas digitalmente, como forma de integrá-las nessas sociedades líquidas.

Eles ressaltam que, embora as limitações da idade tendem a marginalizar socialmente os idosos, eles continuam sendo pessoas capazes de compartilhar experiências, não devendo se admitir que, depois de sugarem a sua vitalidade, sejam condenados a um ostracismo forçado dentro deles mesmos.

A velhice nas políticas públicas

Mais adiante, a velhice é vista como uma questão de saúde a ser resolvida pelo Estado, saindo da esfera privada das famílias para ocupar posto de destaque nas políticas públicas e de assistência, iniciando na Europa esse movimento.

Na dissertação de mestrado em psicologia intitulada, “Uma cartografia do envelhecimento na contemporaneidade: a velhice e a terceira idade”, Mariele Rodrigues Correa,  pontua que a velhice, por muito tempo, foi considerada como objeto da esfera familiar e privada, ou ainda de entidade de filantropia, as quais cuidavam dos idosos e, somente depois, com a criação de saberes especializados: Geriatria e Gerontologia, bem como com o surgimento da aposentadoria é que passou a ocorrer a gestão pública do envelhecimento

A velhice e as tradições

É possível ainda referir o papel de destaque que o idoso na sociedade contemporânea tem para o povo cigano, em razão dos papéis sociais e familiares que são bem delimitados nessa etnia, além de possuírem uma tradição cultural complexa e baseada em representações e memórias, que precisa ser passada para os mais jovens, tarefa realizada pelos mais velhos.

Tal contexto é confirmado em pesquisa realizada com meninas de uma comunidade cigana da Catalunha, por Adolfo Pizzinato , sendo possível identificar, a partir de suas respostas, o poder decisório concentrado nas mãos dos avós de cada núcleo familiar, sendo os pais e avôs, considerados guardiães da moralidade das famílias, além do grande respeito devotado aos mais velhos. Às avós, por seu turno, incumbem a tarefa de orientar as filhas e netos a crescerem conforme os ritos da tradição, possuindo igualmente, posto de destaque e autoridade no cuidado da família e preservação da cultura.

Cultura esta, marcada por inúmeros séculos de marginalização, injustiças, perseguições e preconceitos, até os dias atuais, sendo ainda frequentes os desrespeitos às suas culturas, com imposição de modos de vida por não ciganos.

Por Dr. Gabriel Nogueira (@delegadogabrielnogueira) – Prof. Acadepol | 20 anos Delegado PCSE e Prof. p/ Concursos

 

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